Os tempos modernos em que vivemos geram grandes possibilidades a todos, entre elas a mobilidade: a comunicação imediata com qualquer parte do mundo; poder falar com quem quiser mesmo que esteja a quilômetros de distância.

Podemos conhecer alguém, namorar, noivar e até mesmo casar sem que o lugar seja o impedimento.

Vivemos em um mundo globalizado, nenhuma informação ou situação escapa ao ‘olho’ de um celular, onde vídeos, áudios, postados nas redes sociais ou em sites sejam visualizados em segundos por milhares ou melhor dizendo, por milhões de pessoas.

Dessa maneira, podemos ter contato com tudo o que queremos e procurar conhecer aquilo que desejamos e de que modo poderemos alcançar nossos objetivos.

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As pessoas estão caminhando para ir além, seguindo um rumo do qual não se pode voltar atrás, pois não se permitem conhecer durante o caminhar quem está ao seu lado, e se preocupam aonde querem chegar; somente no final da jornada e quando algumas vezes chegam lá se sentem sozinhas, como se algo estivesse faltando; mais que alegria de se alcançar algo.

É meramente uma sensação de insatisfação e frustração.

Isso acontece porque estão conectadas 24 horas por dia com um gigantesco número de pessoas e, ao mesmo tempo se tornam sozinhas, isoladas; não conseguem estabelecer relacionamentos saudáveis, desafiantes e que amadurecem o psicológico e a mente.

O ser humano precisa viver com o outro, necessita que o outro diga quem ele é, precisa do modelo do próximo, que as pessoas ao seu lado lhe tragam referências.

Não se tem como dizer que uma pessoa consiga desenvolver-se no meio de animais, com certeza ela irá se comportar como um deles, porém temos a maior de todas as capacidades: o raciocínio e sabemos que pensamos e utilizamos isso para o nosso desenvolvimento.

Mas não basta pensar, temos que saber o que pensamos e o porquê desse pensamento.

O pensamento desordenado, sem rumo certo a seguir, irá com certeza gerar conflitos, sofrimento e angústia, trazendo consequências irreparáveis à pessoa.

E tudo isso começa quando nascemos e tudo o que é nos ofertado desde que viemos ao mundo.

Pais, o que vocês pensam sobre seus filhos, e o que eles pensam sobre vocês?

Lembram-se o que vocês falam aos seus filhos?

Conhece de fato quem é seu filho, como ele é?

O que gosta?

Sabe se ele prefere jogar futebol à tênis?

Sua filha gosta da Anitta ou do Mc Guimê?

Ela prefere ir à escola com a mãe ou com o pai?

Pais, quem são seus filhos?

O que eles querem?

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Vejo pais que não sabem quem são seus filhos, não os conhecem de verdade.

Sabem sim: que nasceu, que precisa comprar roupas, estuda na escola tal (e custa caro), quer um smartphone, que você o vê à noite dormindo, você nem sabe se ele gosta de bolo de limão, ou de morango…

Quando falo que as pessoas estão correndo e buscam tantas coisas, tudo que desejam, mas esquecem do mais importante, o primordial: cuidar de quem está ao seu redor.

Vocês pais, estão cuidando ou tratando seus filhos?

Você o leva na escola, ou sabe qual matéria que ele tem dificuldade?

Qual é o melhor amigo do seu filho?

Não costuma deixá-lo na festa do colega e nunca perguntou quem ele é?

Seu filho prefere natação ou futebol?…

Ou você nunca perguntou e matriculou nos dois?

Quantas vezes brincou com ele, ou será que primeiro comprou o brinquedo, e só depois parou para ouvir como ele se sentia.

Quais são as suas angústias, seus medos, seus desejos?

Certamente você oferece tudo de bom para seu filho, indiscutivelmente o melhor, que sua intenção é sempre a melhor, deseja que seu filho tenha no mínimo o que você não teve!

O que você conhece do pensamento do seu filho, quais são as ideias dele, o que ele imagina de vocês pais?

Você está tratando ou cuidando de seus filhos?

Tratar é fácil, basta sim dar o que é necessário, conforme o tempo exige.

Quando ainda bebês, você não deixava faltar as fraldas, as mamadas, o descanso.

Crescem e como toda criança tem as roupas, os brinquedos, a escola; quando adolescente, apesar da dificuldade de eles aceitarem, de resistirem ao que queiram dar à eles, mas mesmo assim, você não desiste e insiste e continua a tratar, não deixa de fornecer  o que é necessário.

Pois um pai e uma mãe não deixam de fornecer o que os filhos precisam.

O cuidado é diferente de fornecer somente o necessário, é estar presente na vida de seus filhos, saber que eles estão no seu mundo pessoal e vocês pais estão no mundo deles.

Que quando ele ganhar a bicicleta poderá contar com sua presença, na certeza de que se ele tentar andar e cair você irá cuidar dele.

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Que seu filho saiba, além de tudo, que se for necessário se esconder, não precisa fazer isso por medo ou vergonha, mas para poder brincar com seu pai, com sua mãe.

Quando a nota não for o “dez”, ele saberá que você estará ali para ensinar e não terá medo de melhorar, pois saberá que nem sempre tudo é “dez”.

Na hora que seu filho quiser algo que ainda não pode, saberá que não é o momento, e ganhará muito mais lidando com o não, do que, se houvesse recebido de imediato o que queria.

Seu filho irá buscar primeiro em você o modelo, a segurança, a afetividade, o caminho, a sua presença, para caminhar com ele nas escolhas que irá fazer, podendo acertar ou não, mas dentro da base, do início, do princípio daquilo que você representa para ele.

Os filhos não fazem igual o que os pais fazem, eles se espelham, se modelam e fazem do seu próprio jeito, mas não irão fazer birra, charme, escândalos quando algo não sair da maneira como gostariam.

Filhos tratados não conseguem tolerar as frustrações, as angústias; não lidam com o “não” e cada vez que isso acontecer seu mundo interior irá desabar; cai e fica cada vez mais difícil de reconstruir.

Os que são cuidados aumentam a sua capacidade de sobreviver as adversidades, suportam e lidam com as situações novas, com coragem, com disponibilidade de encarar o que está por acontecer.

O que seguem sendo tratados, não conseguem se libertar, vivem dependentes, esperando que tudo lhe chegue às mãos.

Pais que cuidam amam, mas mostram aos seus filhos limites, contornam as emoções para que seus filhos saibam como lidar com elas, não tira deles a oportunidade de viver  cada uma.

Pais que tratam não deixam seus filhos sofrerem, não deixam se quer que lhes falte algo material e quando é sentimental a falta, tentam comprar algum objeto para substituir, provocando a sua imaturidade.

Os filhos cuidados tem os pais que jogam o jogo da vida no patamar que é justo, deixam que seus pais os cuidem e posteriormente, cuidam deles.

Aos tratados o jogo da vida é um grande massacre contra seus pais, cobram que lhes deem tudo e na falta, cobram com juros altos a culpa da consciência.

Filhos que aprendem a lidar com as oportunidades e adversidades que a vida oferece,  tornam-se preparados para desenvolver suas habilidades, desabrocham seus potenciais, amadurecem e constroem pontes saudáveis com o mundo ao seu redor e estruturam posições firmes e sólidas dentro de si.

Tornam-se autônomas e protagonistas da própria vida.

Quando se trata os filhos e não se vive com eles de fato a cada passo percorrido do caminho da vida, estes se perdem, se entregam aos vícios, as paixões e se deixam dominar facilmente, não conseguem se controlar, tornando alvos fáceis das armadilhas de seus pensamentos, entregam-se ao caminho das desilusões.

E o pior, acreditam que não podem fazer nada na vida para mudar esse destino e seguem como escravos da própria sentença.

Presencio pais que fazem do caminho de suas vidas um meio individual de seguir, dando mais valor naquilo que eles fizeram para tratar e se esquecem que são responsáveis pelo futuro de seus filhos e que fazem parte do cuidado deles criando assim uma gigantesca distância entre eles e seus rebentos.

Pais que não conseguem ouvir seus filhos e nem eles conseguem estabelecer contato, (apesar de estarem conectados automaticamente entre si na vida, e a maior distância que os separem sejam metros) não conseguem escutar o que vem de dentro, estão tão surdos que precisam gritar e não conseguem se aproximar sem que se acusem dos estragos que um possa fazer para o outro.

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O Cuidado acontece desde o momento que o embrião é fecundado no útero da mãe, desde quando nasce e começa a grande trajetória do cuidar, de fazer com que seu filho seja o autor de sua via própria vida e o escritor de sua própria história.

Ainda existem pais que não compreendem que a jornada da vida reserva a eles primeiro a oportunidade de existirem como casais, de se relacionarem e depois conceberem seus filhos, tendo assim que assumir essa responsabilidade, não delegando ao destino ou a outros personagens a colheita das sementes que plantaram.

A distância entre pais e filhos gera desgosto e colheita de frutos amargos, mesmo sabendo que não existe receita para cuidar dos filhos, nunca se poderá deixar de usar os ingredientes fundamentais para a formação do caráter da pessoa humana.

André Nunes

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