O problema das drogas afeta a sociedade como um todo, assim cada cidadão de um centro urbano com esse problema se torna parte desse uso.
Na maioria das vezes, o descaso e até mesmo repulsa fazem com que grande parte da população deseje ignorar e erradicar, de uma vez por todas, o problema dos dependentes químicos que moram nas ruas.
O problema existe e toda população sabe, mas quando ele fica evidente, e podemos ver pessoas se drogando nas ruas, é bem diferente e causa um impacto emocional muito grande.
Porém, quando não se tem um lar, nem um local privado para fazer uso do que alimenta o vício, o jeito é se virar indo atrás de um poste, se enfiando em uma cabana de papelão, ou ainda ocupando edifícios abandonados que existem por aí.
Dentro do melhor contexto de uso de drogas coletivo, os moradores de rua se reúnem em locais esquecidos das cidades, para interagirem à sua maneira e usarem o crack, uma droga extremamente viciante, porém muito acessível financeiramente.
O que é crack?
Crack é a forma sólida da cocaína que pode conter entre 5 e 40% da cocaína pura.
Para obtenção das pedras é feita uma mistura com água e bicarbonato de sódio.
É a forma mais viciante de cocaína e é considerada a segunda droga mais viciante do mundo, ficando atrás apenas da heroína.
O uso do crack é feito através de inalação com o uso de cachimbos improvisados pelos usuários (podem ser usados vários elementos, até mesmo latas vazias de refrigerantes).
O efeito do crack é de euforia intensa por alguns minutos (até 5), e também provoca sensação de prazer, alterações da percepção e do pensamento, autoconfiança extrema, falta de apetite e aumento da energia física, entre outros sintomas.
A droga surgiu em meados dos anos 80 nos EUA, e aqui no Brasil os registros apontam que a primeira apreensão da droga ocorreu em 1990.
Não existe um tratamento específico para a libertação do crack, e devido ao alto poder viciante da droga, os usuários que tentam parar o uso, têm dificuldade de vencer a “fissura” pela droga.
Isso faz com que abandonem o tratamento e voltem a consumir o crack.
Alguns usuários podem desenvolver tolerância a doses mais elevadas, e com isso tornam o consumo contínuo.
As mortes de dependentes de crack geralmente ocorrem por overdose, parada respiratória ou pelo contágio de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) pelo comportamento de promiscuidade que a droga proporciona.
Recentemente um programa do governo brasileiro institui a internação compulsória dos usuários (contra a vontade), o que fez surgir inúmeros movimentos alegando que isso seria ir contra as Leis de Direitos Humanos.
O que é a Cracolândia?
Um dos motivos da disseminação rápida do crack é seu baixo custo para o usuário final.
O tráfico da droga acaba se sustentando com a reincidência do uso, já que é quase impossível que um usuário adquira apenas uma dose, ou pare simplesmente de consumir a droga.
Por causa do baixo preço, os moradores de rua, que não possuem renda fixa, acabaram experimentando e adotando o crack como droga de consumo contínuo.
Essas pessoas, que não possuem moradia, acabam se juntando em um mesmo local no centro velho da cidade de São Paulo, que ficou conhecido como cracolândia (terra do crack).
Neste local, que compreende algumas ruas da região do bairro da Santa Efigênia, os moradores se reúnem para consumirem a droga e viverem seus delírios que podem variar de usuário para usuário.
Assim, podem ser vistos a céu aberto pessoas consumindo as pedras de crack, num desfile de ações que acaba chocando a população não usuária que passa pelo local.
Quem são os “moradores” da cracolândia?
Como falamos acima as pessoas que “moram” na região chamada cracolândia, são moradores de rua, ou indivíduos que buscam o local para poderem usar o crack livremente.
Dentro desse quadro fica muito difícil oferecer ajuda, e é muito fácil entender porque essas pessoas buscam esse tipo de droga tão viciante.
Por não possuírem uma expectativa de vida positiva, elas não querem pensar na sua realidade, e acabam encontrando no uso do crack a melhor maneira para fazer isso.
O motivo de serem moradores de rua só dificulta serem ajudados, já que não existe uma maneira de conhecer o histórico familiar que levou até essa condição.
Isso faz com que as ações para melhora da situação dessas pessoas, sejam feitas coletivamente, o que, segundo especialistas, é um erro já que cada caso de dependência é diferente do outro.
Muitas vezes são pessoas que têm problemas financeiros e perdem todos os seus bens, só restando a alternativa de ficarem nas ruas.
Em outros casos tratam-se de dependentes químicos que foram banidos por suas famílias, e agora necessitam de um local para continuarem seu ciclo de alguma maneira.
O poder viciante do crack faz com que seus usuários não consigam largar o vício, tornando-se em um uso crônico que acaba matando essas pessoas em pouco tempo.
Quais são as consequências da cracolândia para a sociedade?
Aparentemente poderíamos dizer que a cracolândia é um bem para a população em geral, mas isso seria tratar um problema crônico e sério com muita leviandade.
A região da cidade onde essas pessoas ficam é parte do contexto histórico de São Paulo e engloba ruas onde comerciantes de produtos para a indústria se localizam.
Assim, é quase impossível manter a população não dependente química, longe da cracolândia e isso pode representar até mesmo motivo de medo pela segurança dos indivíduos, já que o crack pode provocar comportamento violento.
A ideia de manter vários usuários de uma droga estimulante juntos, parece um pouco aterradora para os mais sensíveis, mas acaba sendo uma maneira de ter um certo controle sobre o que ocorre com essas pessoas.
Longe de serem abandonados à sua própria sorte, o governo de SP, e a prefeitura têm promovido várias ações para ajudar as pessoas que perambulam por essa parte da cidade.
Cada vez que uma medida é tomada, uma enorme ocorrência de “palpites” surgem na mídia, já que parece que as coisas estão sendo feitas sem um planejamento.
Como os governantes estão lidando com o problema?
A preocupação com a cracolândia é tão grande que há algum tempo a cracolândia foi alvo de várias ações sociais, programas que tinham como finalidade revitalizar a região incentivando a especulação imobiliária.
Com essa revitalização as pessoas começaram a ser removidas, mas sem um programa social que as amparasse, ou as reinserisse na sociedade, elas começaram a se espalhar, o que causou um problema maior.
Com essa saída da cracolândia os indivíduos passaram a vagar em outras partes da cidade, espalhando um problema que antes estava “confinado” e parecia que, controlado.
Como a população acaba se manifestando, de uma forma ou de outra, o governo e a prefeitura se viram na obrigação de fazer alguma coisa para resolver o problema de uma maneira mais social.
Em 2013 o governo de SP criou o programa social chamado Recomeço, que durou apenas até 2014 e custou perto de 80 milhões de reais, representando um custo individual de R$ 1350,00/mês por pessoa atendida.
Consiste em uma ação conjunto de várias secretarias estaduais e é voltado para a ajuda aos dependentes químicos, principalmente os usuários de crack, para que tenham tratamento e acompanhamento de vários profissionais, estendido aos familiares.
O programa inclui tratamento médico e também apoio social, chegando até mesmo, quando necessária, à internação em locais de referência, com acesso a comunidades terapêuticas e moradia assistida.
Dessa iniciativa nasceu o Hospital Recomeço que fica na cidade de Botucatu (interior de SP) e que é o primeiro hospital público destinado especificamente para a reabilitação de dependentes químicos, principalmente os usuários de crack.
Além disso o programa também conta com o Recomeço Família que através de profissionais especializados orientam os familiares no que precisa ser feito para a recuperação do dependente.
No ano de 2014 a prefeitura de SP na gestão do prefeito Haddad criou o programa social chamado Braços Abertos, que visa reduzir danos e reintegrar os dependentes à sociedade.
Esse programa custou perto de 12 milhões de reais, o que representou um valor de R$ 1350,00 por usuário que se beneficiou da iniciativa.
A base da reintegração foi a oportunidade do morador de rua exercer atividade remunerada (varrição de ruas, com ganhos de R$ 15,00 por dia) e também tiveram moradia garantida em hotéis baratos do centro da cidade.
O trabalho não era obrigatório o que fez com que a crítica alegasse que o programa estava apenas alimentando o vício desses usuários e incentivando o tráfico, levando ao fim do programa em maio de 2017.
Ainda em 2017 agora na gestão do prefeito Dória foi criado o projeto social chamado Redenção.
Esse realizou uma limpeza em 21 de maio de 2017, no mesmo período de ocorrência do evento Virada Cultural, que acabou tendo um pouco de sua programação alterada por causa da ação efetiva da polícia que prendeu 38 pessoas na ocasião.
Após essa ação, o prefeito afirmou que a Cracolândia não voltaria a existir enquanto ele estivesse ocupando o cargo, porém a população acabou se deslocando para um novo lugar, próximo ao anterior.
Esse programa também visa a internação compulsória dos dependentes de crack, baseada apenas em uma avaliação médica, sem necessidade do aval de um juiz.
Pela forma como foi implementado, o Redenção recebeu críticas duras de setores organizados, já que a internação contra a vontade do dependente fere profundamente a Lei de Direitos Humanos.
Além disso a prefeitura precisou passar por uma demanda com o Ministério Público que não aprovou a medida, e acabou perdendo o processo na justiça.
Os motivos que levaram esses setores a criticarem o programa estão baseados na ação desordenada e também na possibilidade de ter sido implementado antes mesmo de estar pronto o planejamento.
Dessa ação podemos imaginar apenas que a prefeitura quis dar uma demonstração de controle, aproveitando um evento social de grande repercussão para mostrar seu poder de fogo.
Infelizmente, quando algo assim acontece, as únicas pessoas que saem prejudicadas são os próprios dependentes, que acabam sendo jogados de um lado para o outro, como se fossem objetos.
O que seria necessário para ajudar os usuários de crack da região?
Depois de tantos programas e de tanto dinheiro público envolvido sem uma melhora da situação da cracolândia, pode ser a hora de pensar melhor no assunto e criar programas que realmente ajudem os usuários de crack.
Especialistas em psicologia são unânimes em afirmar que a única forma de ajudar essas pessoas é realizar uma ação lenta e organizada, entrevistando cada “morador” da cracolândia, e conhecendo essas pessoas individualmente.
Programas que visem resolver o problema de forma coletiva, não terão sucesso já que a dependência química tem motivos diferentes para cada pessoa.
Além de conhecer essas pessoas uma a uma, seria necessário uma estrutura para atender essas pessoas em termos de saúde física e mental, para avaliar uma possível reintegração social.
Esse trabalho também precisaria envolver as famílias, que muitas vezes nem sabem onde o dependente está e desconhecem sua situação atual.
Com o apoio do governo, e de instituições especializadas seria possível fazer um trabalho de base com esses dependentes, e resolver a causa e não apenas os sintomas.
Algumas pessoas afirmam que a existência da cracolândia é uma consequência do uso de drogas, e não uma causa como muitos imaginam.
Ou seja, a cracolândia existe por causa dos usuários e não que os usuários se drogam porque existe um local para fazer isso.
Essa simples inversão de definições pode mudar todo um panorama que é visto de forma errada, e incita apenas o desejo de ver todos os dependentes fora dali.
Quando todos os órgãos envolvidos entenderem que as pessoas que ficam na cracolândia estão ali porque lhes falta esperança e o mínimo de dignidade, é possível que comecem a existir programas que realmente os vejam como indivíduos.
Enquanto existir discriminação e medo dessas pessoas, a sociedade não será capaz de pensar e agir para que uma solução mais humanizada seja realmente praticada na cracolândia.
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Mas não se esqueça, se você tem dúvidas me envie que terei imenso prazer em poder ajudar.
André Nunes
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